A Importância e aplicações da Educação Financeira

A Importância e aplicações da Educação Financeira

OPA! Tudo bem com vocês?

Inicialmente vou apresentar o que é educação financeira conforme a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (2005) *:

Processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com  informação, formação e orientação, possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda e adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.

Observe que de acordo com a OCDE educação financeira é um processo e, segundo o dicionário Houaiss, processo é a “realização contínua e prolongada de alguma atividade”. Simplificando, podemos dizer que um processo começa e não termina. É um processo bem abrangente e destaco três pontos do texto para o leitor pensar:

  1. Desenvolver os valores e as competências necessárias para se tornarem mais conscientes.
  2. Ações que melhorem o bem-estar dos indivíduos.
  3. Formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.

Embora a educação financeira seja apresentada com uma forte relação aos conceitos e produtos financeiros, ela envolve conteúdos que vão além dos financeiros e os três pontos que destaquei é para o leitor pensar sobre isto. Em minha opinião a educação financeira é um processo que pode contribuir para a formação de indivíduos mais conscientes, mais comprometidos com o futuro e eu diria mais felizes. Vocês concordam comigo?

Mas sua importância é coisa antiga. Leiam este outro texto da OCDE (2004) (ver Savoia e outros, 2007):

Educação financeira sempre foi importante aos consumidores, para auxiliá-los a orçar e gerir a sua renda, a poupar e investir, e a evitar que se tornem vítimas de fraudes. No entanto, sua crescente relevância nos últimos anos vem ocorrendo em decorrência do desenvolvimento dos mercados financeiros, e das mudanças demográficas, econômicas e políticas.

Como você pode confirmar, não é de hoje que ela é importante, mas a “crescente relevância nos últimos anos” é consequência de características da sociedade contemporânea. Orçar, gerir a renda, poupar e investir ainda são atividades importantes e presentes no nosso dia a dia. Entretanto, durante o período três décadas de inflação no Brasil a cultura de poupança de longo prazo e de planejamento financeiro pessoal perdeu importância. Foi um período em que os conceitos de educação financeira foram deixados de lado e praticamente esquecidos. É preciso mudar isto, voltar a estudá-los e a por em prática. Lembre-se que a atenção dada à educação financeira recentemente é consequência do desenvolvimento dos mercados financeiros, porém se por um lado os produtos financeiros estão mais complexos, por outro lado os conhecimentos de educação financeira da população não se encontram no mesmo nível.

Você considera o seu nível de conhecimento em educação financeira insatisfatório? Vamos juntos mudar esta situação?

O Banco Central do Brasil lista alguns benefícios da educação financeira:

  • Possibilitar o equilíbrio das finanças pessoais,
  • Preparar-se para imprevistos financeiros,
  • Preparar-se para aposentadoria,
  • Qualificar-se para bom uso do sistema financeiro,
  • Diminuir as chances de cair em fraudes,
  • Preparar o caminho de realização dos sonhos.

OPA! Só coisa boa! Todos esses benefícios podem tornar a vida melhor. Concorda?

Mas lembre-se que tudo isso é consequência de um trabalho, de um processo, que depende de você meu caro leitor, afinal é você que toma as decisões.

Agora vamos ver algumas situações reais, porém de forma bem resumida, presentes no nosso dia a dia que estão associados ao que já foi apresentado neste texto.

Profissionais em início de carreira começam a pensar em comprar um carro, comprar um apartamento, viagens de férias, etc., mas logo se questionam se tem dinheiro para tudo isso. Comprar a vista ou financiar? Em que bairro?

Um casal que espera um filho prepara o quarto e o enxoval, mas também precisa cuidar da saúde da mãe e da criança durante toda a gestação. Depois do nascimento esses cuidados aumentam e em breve outras responsabilidades com a educação se acumularão.

Profissionais autônomos, eletricistas em residências ou jardineiras independentes por exemplo, não têm garantia de rendimentos constantes. Essas variações podem trazer problemas? Essa variação pode gerar dificuldades no pagamento das suas contas ou na mensalidade escolar dos seus filhos?

Está chegando a hora de se aposentar. Os rendimentos agora vão diminuir muito? E os passatempos preferidos? Como fica a vida agora?

O curso de inglês, de graduação ou de pós-graduação para valorização profissional, para aumentar as chances no mercado de trabalho. Será mais um compromisso financeiro durante um tempo.

A reforma ou a pintura da casa. Afinal ela está precisando de cuidados mesmo! Além de ficar mais bonita, fica mais valorizada?

Como investir o resultado da economia ou do dinheiro extra que você ganhou? Qual o melhor investimento?

Sabe aquele cachorrinho que você comprou para o seu filho? Ele come, tem que ir ao veterinário, tem que tomar vacina etc. Mas além de bonitinhos, são divertidos.

O casal que atinge a meta de se livra de todas as suas dívidas quer celebrar, quer comemorar e nada mais justo. Como celebrar? O quê eles farão?

E lembre-se que em algumas ocasiões podem ocorrer mais de uma delas ao mesmo tempo! OPA, a educação financeira pode ajudar em todas estas situações.

Espero que esta pequena lista tenha ilustrado as aplicações da educação financeira. É claro que não é uma lista completa, mas dá uma boa ideia do alcance dessa disciplina.

Abraço e até a próxima.

Referência
SAVOIA, José Roberto Ferreira; SAITO, André Taue; SANTANA, Flávia de Angelis. Paradigmas da educação financeira no Brasil. Rev. Adm. Pública,  Rio de Janeiro ,  v. 41, n. 6, p. 1121-1141,  Dec.  2007 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122007000600006&lng=en&nrm=iso>. access on  21  Sept.  2018.  http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122007000600006.

 

Paulo Roberto Agrizzi Nacaratti

Sobre o Paulo Roberto

OPA! Tudo bem com vocês?

Meu nome é Paulo, sou graduado em Matemática (Universidade Federal Fluminense/RJ) e Administração (PUC/MG), com especialização em Estatística (Universidade Federal de Lavras/MG) e Mestre em Ciências em Engenharia de Sistemas e Computação (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Também conclui diversos cursos de formação complementar em educação financeira pela Fundação Getúlio Vargas, Fundação Bradesco entre outras instituições. Esta formação é fortemente influenciada pelos conselhos dos meus pais que sempre incentivaram seus filhos a dedicarem-se aos estudos.

Mas os fatores de influência foram muitos, também destaco os incentivos de professoras e professores desde os primeiros anos de escola. Esse conjunto de influencias e de influenciadores ao longo do tempo desenvolveu minha visão, ou talvez deva chamar de percepção, da interligação entre os diversos conteúdos estudados na escola. Essa visão, ou percepção, se consolidou durante as graduações e ajudou muito profissionalmente.

Sou um profissional com grande experiência em educação, atuando desde 1993, principalmente no nível superior tanto em cursos presenciais quanto no ensino a distância. A formação em matemática e em estatística me permitiu lecionar em cursos de Administração, Biomedicina, Ciências Biológicas, Ciência da Computação, Educação Física, Enfermagem, Engenharia (de alimentos, elétrica, de produção e química), Fisioterapia, Medicina, Serviço Social e Sistemas de Informação.

No decorrer desse tempo, como se pode ver, tive a oportunidade e o prazer de conhecer, descobrir e mostrar a aplicação dos conteúdos das minhas áreas de formação em diversas áreas do conhecimento. Também não faltaram desafios, pois as aplicações surpreenderam a maioria dos alunos, principalmente nos cursos de ciências da saúde. Um dos grandes desafios foi atuar em orientações sobre estatística em aplicações nos trabalhos de conclusão de cursos de graduação dos cursos de fisioterapia e educação física. Para uma boa parte deles matemática e estatística era um grande “mistério” e precisaram estudar aplicações em suas áreas de formação específica.

Nos cursos de engenharia, computação e administração os desafios são diferentes, mas não são menores, com aplicações de matemática e estatística de modo intensivo. Nesses cursos trabalho conteúdos de pesquisa operacional, matemática financeira, engenharia econômica, cálculo diferencial e integral, etc.

Acrescente-se a tudo isso as atividades de extensão, iniciação científica, participação em bancas e orientações de trabalhos de conclusão de curso e a publicação de alguns artigos. Considero uma experiência extraordinária, formidável!

Entretanto, esse contato com os alunos não se restringiu a sala de aula. Tive a oportunidade de acompanhar uma parte da trajetória deles no curso de graduação. O entusiasmo com a perspectiva profissional, de melhorar de vida, de crescimento é um sentimento muito forte, ainda mais nessa fase. Para alguns não se tratava mais de perspectiva, já era uma realidade. Mas também era uma realidade com muitas preocupações. Objetivos foram alcançados, mas ao mesmo tempo surgiram problemas, pois o aumento da renda foi acompanhado de novas responsabilidades e, para alguns, de dívidas. E diante desses acontecimentos eu me perguntava: O que estava errado?

Identificar o erro não é muito difícil. A partir de um levantamento de dados das receitas e despesas é possível descobrir a origem e caracterizar o problema. Depois de conhecido o problema, o próximo passo é resolvê-lo. Porém a solução exige algumas mudanças, é preciso um novo olhar das finanças pessoais e começar a agir de modo diferente. Mas mudanças, inicialmente, geram resistências e nem sempre são muito bem vindas. Além da necessidade de mudar, observei no desafio outras características muito interessantes: a solução é individual e deve ser de aplicação contínua. OPA! Esse era mais um dos meus desafios: auxiliar na organização das finanças pessoais!

Considero esse desafio como um obstáculo que para ser ultrapassado requer conhecimentos de Educação Financeira, principalmente os de planejamento. Entretanto, no Brasil ainda não se dá a devida importância à Educação Financeira. Muitas pessoas se encontram na situação que descrevi anteriormente em consequência do pequeno nível conhecimento em Educação Financeira. Mas é possível resolver essas situações com uma grande proporção de conhecimentos básicos.

Esse foi o ponto de partida para organizar um trabalho de difusão dos conhecimentos de Educação Financeira. Comecei a estudar sobre o assunto em 1994, ano em que começou a ser implementado o Plano Real no governo Itamar Franco, mas ainda sem a ideia de um trabalho de difusão desse conhecimento. O Plano Real foi um programa de estabilização econômica com o objetivo principal de controlar a hiperinflação que em três décadas acumulou 1,1 quatrilhão por cento! Uma inflação de 16 dígitos.

Durante esse período de inflação a característica principal das decisões financeiras foi o curto-prazismo. A prioridade dos indivíduos era defender o seu poder aquisitivo e o seu patrimônio. Isso conduz a decisões imediatistas e o horizonte de planejamento se reduz, os indivíduos priorizaram o consumo e a cultura de poupança de longo prazo perdeu importância. Tudo isso fez com que conteúdos relacionados com a Educação Financeira fossem deixados de lado, esquecidos e não foram transmitidos para os filhos, aqueles alunos que eu encontrei fazendo faculdade.

Com a estabilidade, porém, a situação muda drasticamente e é necessário um longo aprendizado por parte dos indivíduos e das famílias de uma nova ênfase da gestão financeira de seu patrimônio pessoal. Entretanto, é um aprendizado que não ocorre naturalmente, os noticiários sobre o endividamento das famílias e a situação em que os meus alunos se encontravam confirmam isto.

OPA! Se o aprendizado é longo, o quanto antes começar melhor!

Comecei o trabalho de difusão a partir de contatos pessoais e agora estou ampliando para cursos, palestras e atividades universitárias de extensão.  Temos muito que conversar sobre planejamento financeiro principalmente, mas também sobre finanças pessoais, orçamento pessoal/familiar, investimentos, aposentadoria, etc.

Agora deixo uma observação final, a Educação Financeira tem muitos conteúdos interessantes e importantes para serem estudados e descobertos, mas a decisão de aplicar esses conhecimentos é responsabilidade de cada um.

Abraços e até a próxima.